Por André Victor e Clécia Rocha (UNILAB)
A iconografia teve forte relação com imaginário europeu ocorrido na época dos “descobrimentos”, tendo como objetivo certificar e confirmar que os próprios europeus estavam equivocados com o que de fato acontecia na época, com isso, partindo da iconografia, pode-se perceber uma ideia de relatos falsificados, como também atos de superstição e de ignorância.
A cartografia, no final da Idade Média, expressou significativamente o universo cultural dos europeus, cartografia essa que retrata até mesmo um lado científico e ao mesmo tempo mítico, como exemplo o reino do Preste João (Imagem 1) que era localizado nos respectivos mapas, como também os relatos da existência de monstros tenebrosos (Imagem 2) que assustavam os navegadores europeus, monstros esses que estavam espalhados por todo o “mar tenebroso”.
Imagem 1 - O Reino de Prestes João
(http://kid-bentinho.blogspot.com.br/2014/08/6-influentes-reinos-que-nunca-existiram.html)
É importante entender como se construiu e por quem foi construído tais narrativas que, a partir de uma Europa em um período inicial de expansão marítima, efetivou os processos fantasiosos em torno do mar atlântico. Pois como Fonseca (2007) destaca em seu artigo "Iconografia, Imaginário e Expansão Marítima", houve uma presença marcante desse imaginário de herança medieval nas viagens portuguesas a partir do século XV, e por isso: “Estes nem sempre conseguiam superar as crenças, já muito conhecidas, sobre a natureza fantástica e perigosa do “mar oceano”, habitado por seres fantásticos de toda espécie, movido por clima hostil, repleto de armadilhas que ameaçavam o retorno seguro dos viajantes” (FONSECA, 2007 p. 165).
É importante salientar a rapidez em que os relatos orais e escritos das viagens pelo mar se propagavam na Europa - no que se diz respeito às potências marítimas - em uma época de “descobrimentos”, trazendo medo para os viajantes, que mesmo com a incerteza, havia a necessidade e o desejo de se aventurar por terras “desconhecidas”. Por isso, não podemos desconsiderar o quesito “imaginário” para com os processos históricos de expansão marítima, pois diante de um contexto de transição da Baixa Idade Média para o Renascimento, esses foram fatores importantes para se entender como se consolidou tal pensamento, embarcado fortemente pela religião, atrelado ao pensamento de uma Europa como centro do mundo.
Em paralelo a esse cenário, um clima de terror se instaura na mentalidade ocidental, fomentado pela própria igreja no período pré-Reformas. O imaginário europeu, que nesse âmbito detinha de um caráter de realismo para os cristãos, intensifica um ambiente de medo, principalmente no que diz respeito a figura do diabo.
Isso acompanhava uma tendência do século XIV de explorar os livros
do Apocalipse e o aumento da fixação no Inferno e no Diabo,
do Apocalipse e o aumento da fixação no Inferno e no Diabo,
anunciando que o Demônio se alimentava das almas dos preguiçosos e glutões,
dando origem aos sete pecados capitais. Disso derivaram outros
temas paralelos, que foram a morte e o medo de morrer.
Nessa época, surgiram as fórmulas do bem morrer,
ou seja, da salvação. Em um clima como esse, é fácil entender
como se vendiam indulgências e relíquias
dando origem aos sete pecados capitais. Disso derivaram outros
temas paralelos, que foram a morte e o medo de morrer.
Nessa época, surgiram as fórmulas do bem morrer,
ou seja, da salvação. Em um clima como esse, é fácil entender
como se vendiam indulgências e relíquias
(RODRIGUES; FALCON, 2006, p. 125).
Diante disso, o que tentamos demonstrar é que o plano da mentalidade europeia nesse período de transição, de agitação comercial e cultural, transbordou suas representações para diversos veículos, tais como a literatura, a arte e a cartografia.
Imagem
2 - Mapa decorado com elementos desse imaginário - Chet Van Duzer “Sea Monsters
on Medieval and Renaissance Maps”.
A análise dessa cartografia juntamente com os textos da época se torna necessária para a desconstrução para o que existia e pensavam que existia na época em relação ao imaginário, na qual, a reflexão sobre a real história é essencial para que se possa levar ao debate em sala de aula. Por isso, na prática docente, é importante evidenciar os aspectos históricos em torno da temática das navegações e suas conquistas, e fazer com que os estudantes percebam os fatores que levaram os portugueses ou as diversas potências europeias a pensarem de forma fantasiosa e mítica, as rotas do mar atlântico.
Imagem 3 - A
mística ilha de Thule, na Carta Marina, 1539, feito por Olaus Magnus.
As fontes iconográficas (Imagem 3) são ferramentas essenciais para o entendimento do discente referente ao modo de pensar europeu no início do século XV. Pois estas fontes dão conta desse processo histórico das navegações e auxiliam para uma compreensão visual acerca do imaginário da época. Então cabe ao professor, fornecer esse material para seus alunos efetivarem o conhecimento historiográfico, que muitas vezes o livro didático não dar conta.
Referências Bibliográficas
FALCON, F. J. C.; RODRIGUES, A. E. M. A formação do mundo moderno. 2.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.
FONSECA, T. N. de L. e. Iconografia, imaginário e expansão marítima: elementos para a reflexão sobre o ensino de história, DOMÍNIOS DA IMAGEM, LONDRINA, ANO I, N. 1, P. 163-172, NOV. 2007. Dísponivel em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/dominiosdaimagem/article/view/19262/pdf_26.
FONSECA, T. N. de L. e. Iconografia, imaginário e expansão marítima: elementos para a reflexão sobre o ensino de história, DOMÍNIOS DA IMAGEM, LONDRINA, ANO I, N. 1, P. 163-172, NOV. 2007. Dísponivel em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/dominiosdaimagem/article/view/19262/pdf_26.
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